27 junho, 2012

bom dia e o bilhete deixado

Oito da manhã, cheguei em casa e você não estava. Estranhei tudo em seu lugar, mais limpo do que de costume. Camas arrumadas, pratos lavados e até a samambaia viva. Mas o seu lugar, vazio. Dona Maria dizendo que não te via há uma semanas apertou meu peito, mas não me desesperei. Creio que você saiba do seu melhor.
Eu só sei que eu tô de volta, meu velho. Queria poder te contar a minha história e como eu não aguentei ficar do lado de lá. Fiz o retorno numa estrela que sorriu pra mim e me lembrou das coisas boas. Estrela... De tão brilhante está mais pra constelação. Você iria adorar conhecer João. Ou melhor, você precisa conhecer João. Ele deve vir aqui, só não há certeza de quando você volta. Será que volta? Bom, não deixarei de escrever meus bilhetes diários pra colocar debaixo da porta trancada do seu quarto. Olha, meu amigo, eu vou te esperar o quanto for necessário.
Fica em paz, onde quer que você esteja.

13 junho, 2012

limpa

olha, eu não queria fazer drama. você sabe que não. desde o dia em que não vi mais o seu reflexo no imbecil do espelho retangular do meu quarto eu não sou mais eu. talvez eu tenha perdido meu nome. eu acho isso um tanto piegas e demorei três dias para pegar no papel.
você se foi e eu estou cinco quilos mais magro. estava sem banho, cabelo desarrumado. eu estava desajeitado como nunca. hoje tive febre mais uma vez e meu corpo pediu seus olhos me velando por dentro. liguei o chuveiro e lá fiquei por uma hora e quinze minutos. tentei te lavar de mim e tirar toda essa doença de mim. mas só tive a mulher de pele branca que não me larga. eu só tive ela.

10 junho, 2012

carta não entregue

Escrevo essa a carta a um velho amigo, outrora amante, mas que sempre significou algo que eu nunca soube identificar. Por ele tenho um puro carinho. A ele, que sofreu minhas angústias, que se viu enganado por mim mas nunca deixou de me afagar; a ele, que capturava os ângulos mais bonitos, até mesmo os que eu nem sabia que existiam em mim.
Manoel, homem de essência poética, sutileza e fervor. Eu sempre o admirei. Por sua beleza, inteligência, destreza e também por caber em meu abraço. Talvez nunca tenha dito. Não, não disse.
Lembro de todas as vezes que o vi, esnobei, amei, magoei, enganei. Manoel não nasceu para ser tratado de tal maneira e de repente por isso a vida lhe deu logo um novo amor. Um amor que espero ser à altura do que ele merece, que o complete e o faça se sentir mais vivo todas as manhãs. Eu me conforto com isso e fico grato.

Eu queria poder te falar, Manoel, mas ainda não sei exatamente o quê. Eu queria poder te fazer um filme com tudo o que aconteceu que você não presenciou. Eu escondi o que tinha de mais bonito e não permiti que você fizesse parte de mim, Manoel, mas você conseguia saber e dizer o que eu sentia sempre. E eu nunca soube como você fazia isso.

Sorrio, Manoel, por te ver sorrindo hoje. Pleno, como eu queria. E como você será sempre, deus queira... Ou aquele cara que você inventou uma vez, tanto faz.
Reli suas cartas hoje e por isso escrevo. Porque hoje entendi que você enxergava mais longe do que eu imaginava. Como pude não notar? Eu sei a resposta, você também, e me sinto tão orgulhoso em afirmar que nada daquilo faz parte de mim agora, e não foi fácil. Custei a largar do pé de Carolina e também a aceitar que não poderia mais vê-la. Ela me destruiu pouco a pouco em pouco tempo. Chorei, Manoel, chorei muito. Tremi, contorci, quis desaparecer. Mas valeu a pena no fim das contas. Ainda vale. Eu queria que você estivesse aqui pra ver.
Hoje me proponho a ajudar outros caras e isso me faz vivo. Hoje amo, sorrio, choro, sinto, leio, estudo, produzo, crio e faço arte - como criança. Receio não te ver mais por aí, mas guardei algumas partes suas que você semeou por aqui. Fico com essas lembranças de um grande amigo e venho lhe pedir um sincero perdão por todas as vezes que feri seu coração. Não quero mais me sentir o pior dos caras e por isso me comprometi a me desculpar com os que machuquei. Você foi o principal deles, além de mim - mas eu já me perdoei. Portanto, perdoe-me, Manoel, pelos venenos que te fiz tomar por tabela. Perdoe-me, Manoel, por cada vez que te fiz sofrer. Você merece essa vida toda e muito mais.

Um grande abraço com muito carinho.

02 junho, 2012

desanoitece eu só queria ir embora já estou varrendo meus pedaços por aí e por favor não me encontrem mais porque eu não consigo entende - eu não consigo mais. ninguém sabe de nada nem vai saber porque é tudo uma farsa. ninguém acredita mais.