10 junho, 2012

carta não entregue

Escrevo essa a carta a um velho amigo, outrora amante, mas que sempre significou algo que eu nunca soube identificar. Por ele tenho um puro carinho. A ele, que sofreu minhas angústias, que se viu enganado por mim mas nunca deixou de me afagar; a ele, que capturava os ângulos mais bonitos, até mesmo os que eu nem sabia que existiam em mim.
Manoel, homem de essência poética, sutileza e fervor. Eu sempre o admirei. Por sua beleza, inteligência, destreza e também por caber em meu abraço. Talvez nunca tenha dito. Não, não disse.
Lembro de todas as vezes que o vi, esnobei, amei, magoei, enganei. Manoel não nasceu para ser tratado de tal maneira e de repente por isso a vida lhe deu logo um novo amor. Um amor que espero ser à altura do que ele merece, que o complete e o faça se sentir mais vivo todas as manhãs. Eu me conforto com isso e fico grato.

Eu queria poder te falar, Manoel, mas ainda não sei exatamente o quê. Eu queria poder te fazer um filme com tudo o que aconteceu que você não presenciou. Eu escondi o que tinha de mais bonito e não permiti que você fizesse parte de mim, Manoel, mas você conseguia saber e dizer o que eu sentia sempre. E eu nunca soube como você fazia isso.

Sorrio, Manoel, por te ver sorrindo hoje. Pleno, como eu queria. E como você será sempre, deus queira... Ou aquele cara que você inventou uma vez, tanto faz.
Reli suas cartas hoje e por isso escrevo. Porque hoje entendi que você enxergava mais longe do que eu imaginava. Como pude não notar? Eu sei a resposta, você também, e me sinto tão orgulhoso em afirmar que nada daquilo faz parte de mim agora, e não foi fácil. Custei a largar do pé de Carolina e também a aceitar que não poderia mais vê-la. Ela me destruiu pouco a pouco em pouco tempo. Chorei, Manoel, chorei muito. Tremi, contorci, quis desaparecer. Mas valeu a pena no fim das contas. Ainda vale. Eu queria que você estivesse aqui pra ver.
Hoje me proponho a ajudar outros caras e isso me faz vivo. Hoje amo, sorrio, choro, sinto, leio, estudo, produzo, crio e faço arte - como criança. Receio não te ver mais por aí, mas guardei algumas partes suas que você semeou por aqui. Fico com essas lembranças de um grande amigo e venho lhe pedir um sincero perdão por todas as vezes que feri seu coração. Não quero mais me sentir o pior dos caras e por isso me comprometi a me desculpar com os que machuquei. Você foi o principal deles, além de mim - mas eu já me perdoei. Portanto, perdoe-me, Manoel, pelos venenos que te fiz tomar por tabela. Perdoe-me, Manoel, por cada vez que te fiz sofrer. Você merece essa vida toda e muito mais.

Um grande abraço com muito carinho.

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