27 março, 2012

só mais uma car_ta 11 dias

Manoel,

Eu sei que você não quer ouvir uma palavra de mim, sei que não quer me ver nem pintado de ouro mas por favor, manda se foder o teu orgulho só um minuto e me escuta um pouco, Manoel. Não precisa me responder, só me escuta.

Por te-lo perdido, Manoel, venho abandonando aquela vagabunda. Você pode até não acreditar em mim. E você sabe que eu sou um vagabundo e que eu minto o tempo todo, eu sou. Eu me minto e que se dane a concordância. Admito que fui bater na porta da casa dela esse sábado mas ela não estava e fui embora, Manoel, eu fui embora! E chega, sabe? Chega, porra, chega! Ela me fez um estrago e me levou tanto embora que eu sou capaz de estrangular aquela puta mas como assim eu sou incapaz de dizer que não a desejo?! Lógico, eu sou assim, sujo, mentiroso. Corriqueiro.
Perdão pelas palavras, mas nesses meus 27 anos de estrago e fracasso eu ainda não sou homem, Manoel, eu ainda não sou homem o suficiente pra me olhar no espelho e me orgulhar.
Já fui, Manoel, já fui outra e sei posso voltar a ser.

Abraço apertado do seu (hoje, por enquanto),
André.

19 março, 2012

socorro meu perdão

Eu tô tentando, Manoel, eu tô tentando. Peço mil sinceras desculpas pelas vezes que fui ver Carolina estando com você e isso me matou, Manoel, depois que ela foi embora me matou de tanta culpa que eu não me sentia homem de olhar na sua cara no dia seguinte. Eu não queria ir embora, Manoel, mas não podia ficar. Fui injusto, sujo, fraco, um merda. Eu sei que eu sou merda, Manoel. Eu sei.

07 março, 2012

seria doce o meu lar

E eis que uma vez eu vi caída uma foto de um marinheiro erodida na areia misturada a lixo

atrás estava escrito:

"egoísmo impede de ficar por isso marinheiro
se eu não voltar por nada

morri afogado"

02 março, 2012

Manoel, você é foda, cara, você É foda. E sempre consegue me deixar encucado pensando se eu fiz alguma merda mas não eu não fiz! Pra quê? Pra que então?

01 março, 2012

Aquele cara

Ele tinha toda uma mania esquisita (além do nome que sempre parecia estar escrito ao contrário). Escrever cartas a desconhecidos era uma delas. Quando soube disso me apaixonei por sua loucura de jovem-adulto-viajado-certo-do-que-quer-da-vida. Às vezes o invejava. Era do tipo que tinha tudo pra ser maluco drogado largado de esquina mas não era nada disso e talvez esse ponto me incomodasse mais que os outros - eu sou engraçado pra caralho em conflito com meu gosto que fede a ovo podre.
Lembro-me que do dia em que juntos jogamos purrinha pra ver se o tempo passava e passou, passou tanto que não mais o vi. Ouvi dizer que estava em outro país casado com um cara ou uma mulher, não quis me aprofundar. Só sei que num dia qualquer outra hora qualquer me chegou uma carta e eu sabia que eu não era um desconhecido. Era mesmo minha. Ele dizia que estava em minhas terras então tive lá por trás das orelhas uma coragem desconhecida, assumi o papel de seu destinatário e lá fui eu a seu encontro.
Então de cima de uma pedra eu vi o sol brilhar bonito como não fazia há tempos e o dia inteiro passei com os dedos cheios de areia na água gelada onde mora a rainha. Ele banhou-se como criança no mar, tal qual nunca tivesse o visto antes.
Eu disse coisas sobre sonhos e fui embora mas voltei desleixado, canalha sem um pingo de vergonha na cara e escrevi versos mais uma vez. Tirei sorrisos e suor como se eu não fosse acordar e esperancei - eu o ouço me dizer isso dentro da minha cabeça. Rindo da sua voz fina da sua cor pálida e de quando espirrava que nem um rato - e mais tudo que me fazia brilhar.
Não sei que horas, ora, mas fui embora e dessa vez não foi com Catarina. Carolina, vadia, que me levou e eu não quis mais voltar e sei lá o porquê desse vexame todo, irmão - eu não vou falar dela, eu não vou falar.
Carlos. Às vezes Manoel. Sem mais delongas porque eu preciso dormir e eu já falei eu sei que já falei demais.