Ele tinha toda uma mania esquisita (além do nome que sempre parecia estar escrito ao contrário). Escrever cartas a desconhecidos era uma delas. Quando soube disso me apaixonei por sua loucura de jovem-adulto-viajado-certo-do-que-quer-da-vida. Às vezes o invejava. Era do tipo que tinha tudo pra ser maluco drogado largado de esquina mas não era nada disso e talvez esse ponto me incomodasse mais que os outros - eu sou engraçado pra caralho em conflito com meu gosto que fede a ovo podre.
Lembro-me que do dia em que juntos jogamos purrinha pra ver se o tempo passava e passou, passou tanto que não mais o vi. Ouvi dizer que estava em outro país casado com um cara ou uma mulher, não quis me aprofundar. Só sei que num dia qualquer outra hora qualquer me chegou uma carta e eu sabia que eu não era um desconhecido. Era mesmo minha. Ele dizia que estava em minhas terras então tive lá por trás das orelhas uma coragem desconhecida, assumi o papel de seu destinatário e lá fui eu a seu encontro.
Então de cima de uma pedra eu vi o sol brilhar bonito como não fazia há tempos e o dia inteiro passei com os dedos cheios de areia na água gelada onde mora a rainha. Ele banhou-se como criança no mar, tal qual nunca tivesse o visto antes.
Eu disse coisas sobre sonhos e fui embora mas voltei desleixado, canalha sem um pingo de vergonha na cara e escrevi versos mais uma vez. Tirei sorrisos e suor como se eu não fosse acordar e esperancei - eu o ouço me dizer isso dentro da minha cabeça. Rindo da sua voz fina da sua cor pálida e de quando espirrava que nem um rato - e mais tudo que me fazia brilhar.
Não sei que horas, ora, mas fui embora e dessa vez não foi com Catarina. Carolina, vadia, que me levou e eu não quis mais voltar e sei lá o porquê desse vexame todo, irmão - eu não vou falar dela, eu não vou falar.
Carlos. Às vezes Manoel. Sem mais delongas porque eu preciso dormir e eu já falei eu sei que já falei demais.
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