30 julho, 2015

acidente de percurso

mudou de pé a pé. eu não pude evitar, meu caro. minhas mãos não alcançam volantes, não uso cinto de segurança, não tenho carteira de motorista, meu seguro não cobre a batida. a autoescola tá vencida

29 julho, 2015

o gato voador

o gato voador precisava pousar porque gato não sabe voar. mas há um porém: ele é voador.
ele não sabe o que quer, não sabe o que faz, como todo gato voador.
e todo gato voador é gato, gato que precisa de afago. é bicho bom, bicho leal. bicho manso e bicho arisco. gato voador se enrosca, se fixa. dorme deita arranha lambe pula brinca chora ronrona mia. dona chica não se admira. gato voador não berra se atira pau. ele voa.

o gato voador se aproximava do fogo. ele precisava de calor, como todo gato.
ele também precisava sentir o vento, como todo voador.
mas o vento sopra em quem voa. o vento leva quem voa. o vento apaga o fogo. ou alimenta. tudo depende do vento.

e do gato voador.

24 julho, 2015

querer

eu parecia bem. eu estava seguro. não mergulharia.
foi quando desejei ser amado. eu queria vivê-lo. queria respirá-lo. 
eu o queria em meu ventre, entranhado.
eu o queria amarrado, suado, rasgado, arfado.
eu o queria em cada canto dos meus cantos.
eu o queria cantado.
encantado.

eu fui perdendo o controle em minutos. ele me falava de seus outros homens e eu engolia as fantasias que desciam espinhadas pela minha garganta. 
nunca compreendi o porquê.
ele me perguntou o que se passava.
eu nunca fui bom com palavras, meu bem.
ele estava se alistando para tomar conta de mim. 

eu não poderia permitir. ele me disse não tenha medo. eu fiquei fodido de medo. 

23 julho, 2015

aquele cara

eu lembro daquela época como se fosse ontem.
eu havia conhecido Maurício há um mês.
ele me interessara, mas eu tinha certeza de que ele não era o cara. essas coisas que a gente sempre ignora.

quando parei naqueles braços, ele me trouxe o movimento.
eu estava cansado e fodido. cheio de fumaça tosse pergunta problema despacho. carregava o mundo nas costas mais uma vez.
então ele trouxe a leveza.
foram cinco dias e quatro noites. ele se dizia nas brechas e meu eu predador caçava seu olhar. eu o via desenrolar e contava cada minuto para fitá-lo. era a melhor parte. eu mergulhava em seus olhos e lá me perdia ao desvendar seus sorrisos.
ele almava a graça.
seu toque áspero irreconhecível só calafriava ainda mais meus poros.
naquele dia outonou no inverno. e eu fui vivendo de neologismos. não tinha mais vocabulários pra ele.

Maurício me entrelaçou em suas pernas apertou forte e eu só desejei ser sufocado. seu cheiro nunca mais saiu de mim.