30 agosto, 2015

picadeiro

tecido entrelaça o acrobata estrangula o ventre e cada músculo que o faz. como ele faz. faz e desfaz. se aperta, afrouxa a dor. e se dosa na dose. não se estrangula não, rapaz.
faz-se o truque.
faz-se a mágica.
movimenta.
bamboleia na corda bamba, antes fosse arame!
faz-se o suspense. atira-se as facas.
faz-se a graça. deixa sem graça.
entre cheios e vazios, não há espaço para o palhaço.

14 agosto, 2015

ele é, eu só

mais uma vez éramos eu e ele. como sempre. dormimos e acordamos. não conseguimos sair de casa e passamos a tarde juntos, almoçamos juntos, vimos o tempo passar. ele me desejou felicidades, agradeci. chorei. choramos. ele beijou meu rosto, choramos ainda mais. de soluçar, de sufocar e não inspirar. ele resolveu jogar uma água no corpo ensanguentado pra lavar a alma. eu fui. ele me ensaboou, me fez carinho e me deu um abraço apertado. eu só tenho você. naquele momento éramos um que nunca foram dois. eu não posso mais, André. mas fomos. somos um só e eu só.

12 agosto, 2015

ode

ganhei um vômito de presente e o alter ego de volta. tinha que ser esse puto! tinha que ser e lá vou eu engolindo toda essa merda mais uma vez regurgitando esse veneno espinho que me torce desconcerta e despontua. você ainda insiste em aspirar essa porra desse ar que não te inspira que sufoca maltrata desforma embaraça traça larga disso, caralho! larga desse fogo que te carboniza desse lençol desse uso desse abuso desse engano discurso sem fecho arrego paz sem sossego sem verdade. você não larga. você é comedido e comido. ele faz o que quer e o que não quer. ele te devora. ele devora o mundo e eu passo fome de você.

10 agosto, 2015

no café da manhã

ganhei de presente
coados na água fervente
espinhos pro café da manhã
sem açúcar
sem afeto
sem coragem
café que desce pelo peito
arranhado
socado
amassado
que não se ingere
não se digere
não se faz
isso não se faz

06 agosto, 2015

cafeína

atiça acorda aquece
me faz me traz me paz
e perturba
inquieta
inconstância
amargo retrogosto
ela, cafeína
pela manhã tarde noite
não mais me deixa dormir
quem precisa dormir?
sê cafeína nos meus dias
e me acorda nos teus acordes
me canta
me acalma
me aquece mais uma vez
sê inteira