22 novembro, 2010

Despedida selada (por Clara Mello)

Um dos textos mais simples e bonitos - ao mesmo tempo - que já vi. Postando com muito orgulho dessa minha pequena não-mais-tão-pequena-assim-que-sabe-muito-bem-caminhar-com-suas-próprias-pernas. Dei-me o luxo de fazer algumas pequenas modificações.

"Maria,
To indo embora.
Por motivos que você não entende e ninguém entenderá.
Tem muito tempo que eu to indo, e você nem me viu ir...
Mas agora é de vez!
Quando 'cê acordar, eu nem vou tá mais aqui. Já vou tá longe... E ai não tem mais volta.
Nem precisa responder a carta, nem precisa chorar nem nada, nem precisa notar que eu fui, tá?
'Cê sabe, vão dizer que eu fui embora por causa de outra, que fui embora porque não te amo, que fui embora porque não valho nada. Mas 'cê sempre foi diferente dessa gente, e vai entender que eu fui simplesmente porque precisava.
Meu coração tem dessas coisas, Maria. Às vezes parece que vai explodir dentro do peito, arrebendando os botões da camisa. E ai eu preciso correr pro mundo...
Eu não sei pr' onde vou, não sei mesmo, Maria.
Mas vou descobrindo, não carece de preocupação.
Se perguntarem por mim, só ri. Não dá brecha pra esse povo fazer intriga dessa nossa despedida tão bonita.
Por um tempinho eu não vou dar notícia. Mas se você não mudar de endereço, quando meu coração afrouxar dessa angústia, eu te mando outra carta.
Maria, tem tanta coisa que eu acho, tanta coisa que eu queria saber. Mas nada se compara à quantidade de coisas que eu sei que eu não sei.
Não sei é a ânsia de descobrir essas coisas, ou só a agonia ruim de não saber mesmo. Maria, tá vendo, é sempre esse não sei.
Mas sabe, sabe bem, que quando eu tiver bem longe, ainda assim vou me lembrar do seus olhos.
E vou me lembrar também daquela noite que a gente achou que nunca fosse acabar.
Vou lembrar de tudo, mesmo quando eu já tiver botado o pé nessa estrada sem volta.
E você lembra de mim, se quiser. Que eu vou estar sempre pertinho da sua lembrança, se bater vontade de não me esquecer.
Vou sentir falta da nossa vontade do tempo não passar. Vou sentir muita saudade!
Mas Maria, saudade não é bem pra onde a gente quer voltar. É só a certeza de que foi bom estar ali.
E essa certeza me basta. Nos basta, não é?
Maria, vou indo. Que já passei da hora de ir embora e de chegar.
Despedace-me depois de ler essa carta, que o vento vai me desmembrar por ai. E eu tô mesmo precisando disso!
Perdoa esse meu jeito bruto e brusco de dar adeus, perdoa eu ter andado de fininho e agora correr feito louco pela estrada. Perdoa, Maria, esse meu jeito torto na vida!
Queria te pedir pra manter esse sorriso bonito e a mania de fechar os olhos antes de falar. Mas se quiser mudar, desejo que você se permita. Desejo que você seja livre, mais livre que eu...
Um grande abraço cheio de saudade.
To indo embora, Maria.

Do sempre(nunca) seu,
Pedro"

5 comentários:

Unknown disse...

Quanta honra!
Que surpresa!
Obrigada, Lu, fico muito muito feliz de estar aqui.

Te amo, companheira de tudo.

Júlia Borges disse...

Que bom que me chamo Júlia...
não suportaria uma despedida tão longa.
vou ensinar a vocês a só dizer "tchau" hehehehe...
brincadeira.

beijos

Thais disse...

Adicionei o seu aos meus também! Mas acho que o meu tá ali duas vezes.. =)

Mariana Gama disse...

Porra, que coisa linda!!!!

Clara Carvalho disse...

É muito lindo!