Duas da tarde do dia seguinte e me vejo nesta cadeira azul-royal que ofusca mais meus olhos que minha hipermetropia tão perto da tela. Quero nascer outro. Vejo-me turvo, sem paladar, sem alimento. Empanado em minha própria obssessão pela cura. E quero o retorcido, dobrado, curvilíneo, íngreme, sinuoso.
Eu quero o complexo porque eu sempre gostei do estrago e isso me lembra uma canção.
Dedico algumas frases a um grande amigo meu, pois sempre que o leio começo a palavrear e nem ele sabe como acho isso tão belo, tão... Especial? Não sei o que há em suas cartas nem nos seus livros que nunca consegui ler. Compartilhamos franceses e um pouco de cultura que eu já renego que exista em mim, não me enxergo mas talvez seja disso que eu preciso agora, entende?
E agora eu me levanto e vou à estante selecionar aquele livro de capa azul que há mais de ano me foi dado de presente e até hoje, nada. É azul. Azul, como a cadeira! Azul, a cor da contagem regressiva dos dez segundos de felicidade extrema ouvindo música de macumba e azul era minha roupa quando o conheci, olha só!
Fecho os olhos e lembro do tempo frio que fazia, onde os casacos não eram suficientes mas o café era de graça; o céu cheio de estrelas e nós deitávamos na grama pra assistir os shows à noite, com toda a poesia e o tabaco que merecíamos. Nesse meio tempo perdi as estrelas e palavras e poemas e autores e livros que prometi e obras mais pinturas sem trajeto nenhum e sem pincéis encharcados que manchavam aquarelas das mais variadas que fazia e pessoas recitando sonhos em meus ouvidos que já não escutavam mais nada.
Eu preciso de um banho, amor. Eu preciso de um banho pra ver se saem todas as vírgulas de minha alma porque já estou farto delas. Não quero pontos finais reticências dois-pontos muito menos hifens. Não quero mais controle e de viver assim, só, quero o ar que me oxigena para sempre.
Continuo a escrever de meia em meia hora sem saber ao certo sobre o que se trata a discussão de meus dedos. Agora só vou tomar meu banho. Meu café e meu cigarro também não pode faltar.
Meus dois amores dormem no quarto ao lado. Às nove estou de volta.
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