I
canto em linhas desiguais
um desenho do teu semblante
preto e branco
insípido monocromo
escala de cinza, face
nada disso era você
bumbo bumba não é boi
entrelinhas malfeitas
passagens desfeitas
entre tantas outras
bendito seja
o até (mais)
II
pandeiro xe-querer
em cada passo
dança mansa
samba, nada escapa
entre mares, ares
pólen, solo duro
terra rala:
floresceu
terra de abelhas
e sementes de girassóis
eu vou 'pra qualquer lugar
dedo entrelaçado
qual a alma
sem pudor
e aquém
III
chora cuíca
tropeço no vazio
descompassado
não me joga fora
suspiro bravo
quando já não era eu
quando já não era nada
volta 'pra me buscar
cantando
catando meus restos
teus
coração respira
costura sem sangrar
um remendo
um remédio
para acostumar
ensolarar
fechar os olhos
para salvar a vida
para salvar o santo
para salvar a flor
dessa terra onde brotou
amor
12 dezembro, 2017
12 abril, 2017
aflora
na cabeceira da noite há um prato cheio
notas que não tenho ouvido
será que tenho
ou visto
de toda anatomia que me forma nada mais me sobra
eu só quero o que não há mais
me vem cheio
desatado
plurado
pulsado
me traz amostras
onde me punha a mergulhar
na organicidade
afago
no piscar
duplo
olhar fundo
sem escada
sem sinalização
sem volta
fada sem varinha de condão
eu preciso te gravar
dentro
dentro de mim
adentro me pego
lembro
sereno
terreno
fiz minha casa
morada onde vivo norte
sem abrir janelas
o mar é de vento forte
logo eu
nessa engenharia
já diz o velho amigo
na paráfrase
dois não sustentam
notas que não tenho ouvido
será que tenho
ou visto
de toda anatomia que me forma nada mais me sobra
eu só quero o que não há mais
me vem cheio
desatado
plurado
pulsado
me traz amostras
onde me punha a mergulhar
na organicidade
afago
no piscar
duplo
olhar fundo
sem escada
sem sinalização
sem volta
fada sem varinha de condão
eu preciso te gravar
dentro
dentro de mim
adentro me pego
lembro
sereno
terreno
fiz minha casa
morada onde vivo norte
sem abrir janelas
o mar é de vento forte
logo eu
nessa engenharia
já diz o velho amigo
na paráfrase
dois não sustentam
26 março, 2017
incapaz
intitulei-me capataz
ceifador de meus castelos
um por um
destruídos
por dinamites silenciosas
já não nasce sol no reino
a mariposa cansada
não aguenta mais seu próprio peso
afogada
agora é só fio
quem é a tal?
era uma vez eu
um menino que nunca soube brincar
ceifador de meus castelos
um por um
destruídos
por dinamites silenciosas
já não nasce sol no reino
a mariposa cansada
não aguenta mais seu próprio peso
afogada
agora é só fio
quem é a tal?
era uma vez eu
um menino que nunca soube brincar
22 março, 2017
aspirante
como Carolina
entranhado
incansável sedutora
eu te aspirei como há tempos
sem vírgulas
sem cabeça
excito
de cima do meu altar das lamentações
eu sou o rei perdido que não quer acordar
seus restos no meu rosto
o gosto inconfundível
atracadoentranhado
não estou de pé
mas ainda vivo
mas ainda vivo
sobrevivo
sem cara pra reviver o final
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