12 dezembro, 2017

arranjo em três atos

I

canto em linhas desiguais
um desenho do teu semblante
preto e branco
insípido monocromo
escala de cinza, face
nada disso era você

bumbo bumba não é boi
entrelinhas malfeitas
passagens desfeitas
entre tantas outras
bendito seja

o até (mais)


II

pandeiro xe-querer
em cada passo
dança mansa
samba, nada escapa
entre mares, ares
pólen, solo duro
terra rala:
floresceu

terra de abelhas
e sementes de girassóis
eu vou 'pra qualquer lugar
dedo entrelaçado
qual a alma
sem pudor
e aquém


III

chora cuíca

tropeço no vazio
descompassado
não me joga fora
suspiro bravo
quando já não era eu
quando já não era nada
volta 'pra me buscar
cantando
catando meus restos
teus

coração respira
costura sem sangrar
um remendo
um remédio

para acostumar
ensolarar
fechar os olhos

para salvar a vida
para salvar o santo
para salvar a flor
dessa terra onde brotou
amor

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