08 dezembro, 2016

de passagem

ando parado. fiquei muito tempo trancado aqui. aqueles tempos foram difíceis. hoje meu menino me deixa solto, vou e volto despreocupado e já não paro. há tanto a gente não se encontra... eu tive saudades, sabia? imagino que você não. ou sim - mas não precisa admitir. o menino metafórico que fantasia suas realidades hoje nem me consulta mais.
o caminho foi longo e cá estamos sós. quando eu chego é sempre assim. tiro seu sono, sua paz, sua paciência - nos velhos tempos, sua sanidade. eu sempre muito egocêntrico, você sabe. agora aprendi a ir sem mandado. meu eu não admite mais esse ultraje.

ainda será - eu dentro, você fora - como nos últimos anos.
eu vou me acostumar com isso.

25 maio, 2016

era

essa noite eu dormi sem saber
eu cheguei até aqui
engoli seco esse teu tempo
entalado
nos meus olhos
na minha boca
no meu ventre

estala o dedo e nada aqui tem paz
tudo vivo me traz mal
ou não me traz
eu já não sei o que faz

eu fui
fiz
me refiz em meus papeis
e aos prantos
me desenhei sorrindo

era uma vez
mais nada

25 abril, 2016

inerte

eu já perdi as contas de quantas vezes quis estar dentro de você. ser teu motivo de tudo. já perdi a conta de quantas vezes idealizei você. no imaginário sou deusa, fascínio, presente entregue a seu dispor. sou carne na sua, sou cor. sou teu sorriso da manhã que você não vê. você não acorda. e eu desapareço. quantos dedos vou martelar até te ter inteira? ora a água não bate nem no joelho, ora você me transborda. me quero afogada, sempre fui do mar. levezas me estranham mas não quero carregar pesos. paradoxos ainda vão me envenenar.

29 março, 2016

mais uma mentira

eu ia dizer que às vezes rezo a deus pra encontrar Tadeu. seria mais uma das mentiras que eu conto, já não rezo há muito tempo. mas gostaria. eu sempre tive certeza de que não o esqueceria.
era matar ou morrer. não escolhi, mas me deixaram viver. sobrevivi em meio ao pó. ele dorme. vivo, liberto. ele hiberna há anos em mim. já vai para o sexto ano e eu tomo mais de meio litro de café por dia.

esse texto nunca teve fim.

11 fevereiro, 2016

nada consta

não me espere do outro lado da rua
não me espere no ponto ou na esquina
não me espere mais
ou não espere nada

pago prestações de noites intermináveis
juros de esperas sem um retorno
parcelas de um nada recebido
nada consta nessa conta

só um de mim e eu só

11 janeiro, 2016

avoou

eu não vou mentir dizendo que não me arrependi. soprou forte na janela e levou, me levou. e vem varrendo tudo até então. só palavras fotos e uns desenhos nem sei como ainda se aguentam pendurados no espelho. dessa vez você não se pendurou. eu tropeço caio levanto caio de novo e vou só. quem é que vai dizer que nada muda? não há. o que soprou levou o áspero as madrugadas suspiros sufoco e mais uns olhos fechados, maçãs-do-rosto gatos luas e um par de asas. o cheiro do café que não consigo tomar ele levou. minhas vírgulas ele sempre leva. quem? não poderia ser o vento.

03 janeiro, 2016

ecoa

ele me embrulha o estômago, distorce, despenteia, não faz questão. eu sou todo. e dentro de mim sou amor e ódio. em meio a tantos outros que sonho, eu só. sou um rasgo entre mim e o vazio que crio enquanto ele dorme. não sei me fazer entre palavras ditas. amém, diz orgulhoso. chora, afunda no silêncio sufocado que você ecoa. agora não adianta mais acordá-lo. eu tenho medo do escuro, do meu - o pior de todos eles.