cento e cinquenta e oito dias e vivo. mais forte, (mas e mais) cheio de mim. gente grande acorda cedo, escova os dentes e vai trabalhar. quem diria...
João cuida muito bem de mim, e eu dele. tudo nos conformes. hoje fomos passear de bicicleta e eu respirei vida bem fundo. só pensava uma coisa: se morrer, morro o ser mais feliz do mundo.
15 novembro, 2012
20 setembro, 2012
fadiga nº1
Às vezes sinto-me tão asqueroso, arrogante, mal-educado. Esqueço-me quem fui e quem procuro ser agora. Monto toda uma imagem distorcida sem nem mesmo precisar de espelhos e, de repente, cá estou eu com cabelos desgrenhados, unhas mal-cortadas e um hálito péssimo. Sou incapaz de sair da imaginação. Imutável. Estaticamente grosseiro, impaciente, intolerante, preguiçoso. Preocupações dariam-me muito trabalho, pensar me estafaria. Sou quase pintura, num tom blasé - palavra que pouco me agrada. Sobrenome: fadiga. Porém, esse não sou nem posso ser. Disposição, homem. Vê se te olha. Exercício matinal de reconhecimento. Dessa vez tenho sono, sete reais no bolso, almoço na geladeira. Dessa vez não arde, não protela, não desgasta, não morre. Thanks, God.
20 julho, 2012
um novo encontro
Bom dia, minha irmã. Estou aqui, sempre estive. Apenas sou outro.
Um outro. São. 10kg a mais e menos barbado.
Só não larguei do cigarro, mas Carolina e toda aquela gente se mandaram. Tô aqui, sou eu e sou cheio de vírgulas.
Um outro. São. 10kg a mais e menos barbado.
Só não larguei do cigarro, mas Carolina e toda aquela gente se mandaram. Tô aqui, sou eu e sou cheio de vírgulas.
27 junho, 2012
bom dia e o bilhete deixado
Oito da manhã, cheguei em casa e você não estava. Estranhei tudo em seu lugar, mais limpo do que de costume. Camas arrumadas, pratos lavados e até a samambaia viva. Mas o seu lugar, vazio. Dona Maria dizendo que não te via há uma semanas apertou meu peito, mas não me desesperei. Creio que você saiba do seu melhor.
Eu só sei que eu tô de volta, meu velho. Queria poder te contar a minha história e como eu não aguentei ficar do lado de lá. Fiz o retorno numa estrela que sorriu pra mim e me lembrou das coisas boas. Estrela... De tão brilhante está mais pra constelação. Você iria adorar conhecer João. Ou melhor, você precisa conhecer João. Ele deve vir aqui, só não há certeza de quando você volta. Será que volta? Bom, não deixarei de escrever meus bilhetes diários pra colocar debaixo da porta trancada do seu quarto. Olha, meu amigo, eu vou te esperar o quanto for necessário.
Fica em paz, onde quer que você esteja.
Eu só sei que eu tô de volta, meu velho. Queria poder te contar a minha história e como eu não aguentei ficar do lado de lá. Fiz o retorno numa estrela que sorriu pra mim e me lembrou das coisas boas. Estrela... De tão brilhante está mais pra constelação. Você iria adorar conhecer João. Ou melhor, você precisa conhecer João. Ele deve vir aqui, só não há certeza de quando você volta. Será que volta? Bom, não deixarei de escrever meus bilhetes diários pra colocar debaixo da porta trancada do seu quarto. Olha, meu amigo, eu vou te esperar o quanto for necessário.
Fica em paz, onde quer que você esteja.
13 junho, 2012
limpa
olha, eu não queria fazer drama. você sabe que não. desde o dia em que não vi mais o seu reflexo no imbecil do espelho retangular do meu quarto eu não sou mais eu. talvez eu tenha perdido meu nome. eu acho isso um tanto piegas e demorei três dias para pegar no papel.
você se foi e eu estou cinco quilos mais magro. estava sem banho, cabelo desarrumado. eu estava desajeitado como nunca. hoje tive febre mais uma vez e meu corpo pediu seus olhos me velando por dentro. liguei o chuveiro e lá fiquei por uma hora e quinze minutos. tentei te lavar de mim e tirar toda essa doença de mim. mas só tive a mulher de pele branca que não me larga. eu só tive ela.
você se foi e eu estou cinco quilos mais magro. estava sem banho, cabelo desarrumado. eu estava desajeitado como nunca. hoje tive febre mais uma vez e meu corpo pediu seus olhos me velando por dentro. liguei o chuveiro e lá fiquei por uma hora e quinze minutos. tentei te lavar de mim e tirar toda essa doença de mim. mas só tive a mulher de pele branca que não me larga. eu só tive ela.
10 junho, 2012
carta não entregue
Escrevo essa a carta a um velho amigo, outrora amante, mas que sempre significou algo que eu nunca soube identificar. Por ele tenho um puro carinho. A ele, que sofreu minhas angústias, que se viu enganado por mim mas nunca deixou de me afagar; a ele, que capturava os ângulos mais bonitos, até mesmo os que eu nem sabia que existiam em mim.
Manoel, homem de essência poética, sutileza e fervor. Eu sempre o admirei. Por sua beleza, inteligência, destreza e também por caber em meu abraço. Talvez nunca tenha dito. Não, não disse.
Lembro de todas as vezes que o vi, esnobei, amei, magoei, enganei. Manoel não nasceu para ser tratado de tal maneira e de repente por isso a vida lhe deu logo um novo amor. Um amor que espero ser à altura do que ele merece, que o complete e o faça se sentir mais vivo todas as manhãs. Eu me conforto com isso e fico grato.
Eu queria poder te falar, Manoel, mas ainda não sei exatamente o quê. Eu queria poder te fazer um filme com tudo o que aconteceu que você não presenciou. Eu escondi o que tinha de mais bonito e não permiti que você fizesse parte de mim, Manoel, mas você conseguia saber e dizer o que eu sentia sempre. E eu nunca soube como você fazia isso.
Sorrio, Manoel, por te ver sorrindo hoje. Pleno, como eu queria. E como você será sempre, deus queira... Ou aquele cara que você inventou uma vez, tanto faz.
Reli suas cartas hoje e por isso escrevo. Porque hoje entendi que você enxergava mais longe do que eu imaginava. Como pude não notar? Eu sei a resposta, você também, e me sinto tão orgulhoso em afirmar que nada daquilo faz parte de mim agora, e não foi fácil. Custei a largar do pé de Carolina e também a aceitar que não poderia mais vê-la. Ela me destruiu pouco a pouco em pouco tempo. Chorei, Manoel, chorei muito. Tremi, contorci, quis desaparecer. Mas valeu a pena no fim das contas. Ainda vale. Eu queria que você estivesse aqui pra ver.
Hoje me proponho a ajudar outros caras e isso me faz vivo. Hoje amo, sorrio, choro, sinto, leio, estudo, produzo, crio e faço arte - como criança. Receio não te ver mais por aí, mas guardei algumas partes suas que você semeou por aqui. Fico com essas lembranças de um grande amigo e venho lhe pedir um sincero perdão por todas as vezes que feri seu coração. Não quero mais me sentir o pior dos caras e por isso me comprometi a me desculpar com os que machuquei. Você foi o principal deles, além de mim - mas eu já me perdoei. Portanto, perdoe-me, Manoel, pelos venenos que te fiz tomar por tabela. Perdoe-me, Manoel, por cada vez que te fiz sofrer. Você merece essa vida toda e muito mais.
Um grande abraço com muito carinho.
Manoel, homem de essência poética, sutileza e fervor. Eu sempre o admirei. Por sua beleza, inteligência, destreza e também por caber em meu abraço. Talvez nunca tenha dito. Não, não disse.
Lembro de todas as vezes que o vi, esnobei, amei, magoei, enganei. Manoel não nasceu para ser tratado de tal maneira e de repente por isso a vida lhe deu logo um novo amor. Um amor que espero ser à altura do que ele merece, que o complete e o faça se sentir mais vivo todas as manhãs. Eu me conforto com isso e fico grato.
Eu queria poder te falar, Manoel, mas ainda não sei exatamente o quê. Eu queria poder te fazer um filme com tudo o que aconteceu que você não presenciou. Eu escondi o que tinha de mais bonito e não permiti que você fizesse parte de mim, Manoel, mas você conseguia saber e dizer o que eu sentia sempre. E eu nunca soube como você fazia isso.
Sorrio, Manoel, por te ver sorrindo hoje. Pleno, como eu queria. E como você será sempre, deus queira... Ou aquele cara que você inventou uma vez, tanto faz.
Reli suas cartas hoje e por isso escrevo. Porque hoje entendi que você enxergava mais longe do que eu imaginava. Como pude não notar? Eu sei a resposta, você também, e me sinto tão orgulhoso em afirmar que nada daquilo faz parte de mim agora, e não foi fácil. Custei a largar do pé de Carolina e também a aceitar que não poderia mais vê-la. Ela me destruiu pouco a pouco em pouco tempo. Chorei, Manoel, chorei muito. Tremi, contorci, quis desaparecer. Mas valeu a pena no fim das contas. Ainda vale. Eu queria que você estivesse aqui pra ver.
Hoje me proponho a ajudar outros caras e isso me faz vivo. Hoje amo, sorrio, choro, sinto, leio, estudo, produzo, crio e faço arte - como criança. Receio não te ver mais por aí, mas guardei algumas partes suas que você semeou por aqui. Fico com essas lembranças de um grande amigo e venho lhe pedir um sincero perdão por todas as vezes que feri seu coração. Não quero mais me sentir o pior dos caras e por isso me comprometi a me desculpar com os que machuquei. Você foi o principal deles, além de mim - mas eu já me perdoei. Portanto, perdoe-me, Manoel, pelos venenos que te fiz tomar por tabela. Perdoe-me, Manoel, por cada vez que te fiz sofrer. Você merece essa vida toda e muito mais.
Um grande abraço com muito carinho.
02 junho, 2012
27 maio, 2012
e de repente um adeus
André,
bom dia. ou tarde.
droga, não sei começar isso. olha, eu sei que ficamos muito íntimos de primeira, desde aquele dia histórico. doze do doze de dois mil e dez. só faltava ser doze. anoitecia e eu não dormia. e aí você apareceu. prazer, André. eu te sorri como não faço com ninguém. seu nome é tão feio, mas você é tão bonito... depois que eu me toquei a merda que tinha falado. você é ridícula e demos um abraço, rindo de nós mesmos. não havia lugar para silêncio. somos diferentes pra caralho mas temos tudo a ver foi o que dissemos, lembra? de repente no dia seguinte você já tava aqui em casa e todos os dias e sempre e desde então você nunca mais me deixou. você podia ser meu amigo pra sempre, né como criança boba. a gente sempre conviveu muito bem junto, você com seu jeito hard que eu sempre reclamei, e eu aqui na minha vida confusa e incoerente que você nunca entende. eu queria poder mostrar o quanto você supriu meu vazio. e por muito tempo, mas eu nunca tive coragem de dizer isso face to face, como você sempre fala.
sabe, cara, talvez isso não tenha sido muito bom. André, eu acho que virei você. eu não tô maluca.
talvez eu tenha lido demais aquela peça que você me pediu ajuda, aquela que você e as meninas estão montando. que aliás, é ótima! eu queria estar aqui pra te ver em cena. tenho certeza de que vai dar tudo certo, vê se bota fé.
você já deve estar se perguntando onde eu estou. eu não fui dar aquela volta de sempre no quarteirão nem estou trancada no quarto. olha, André, me perdoa...
eu fui embora. não é por mal, eu juro, confia em mim? é tudo o que preciso. eu não vou estar mais aqui pra ver, então vou acreditar que você entendeu a frase ali de cima porque eu não vou me explicar mais. eu sei que não dá mais pra continuar aqui.
eu tô deixando a casa pra você e a grana de três meses de aluguel dentro daquela gaveta da cozinha, a que é difícil de abrir. eu queria te pedir pra tratar dos bichos e da samambaia. cuida do que é nosso por mim. vê se não esquece dos seus remédios e diminui esses cigarros, não quero ter de enterrar você. repetindo-de-novo-mais-uma-vez, por favor, não se drogue, eu já te pedi isso um milhão de vezes, quem sabe nessa você escuta. mais avisos: pelo amor de deus, André, tome conta de você e tenha MUITO cuidado com essas pessoas que você arranja nessa vida, principalmente Carolina. depois abre teu olho com a Dora e o Igor. quanto a Catarina, larga dela, cara! deixa a garota viver. ah, e vê se joga fora aquelas fotos do Tadeu, eu não joguei porque sou muito legal contigo. bom, se liga, cara. eu tô confiando em você. eu queria estar em casa quando você acordasse - se é que você dormiu essa noite. mas você nunca me deixaria ir e eu perderia a coragem. eu preciso ir agora senão eu perco meu ônibus, não posso prolongar essa conversa.
não tente saber pra onde eu vou, deixa que eu escrevo daqui um tempo.
com amor,
Luíza
talvez eu tenha lido demais aquela peça que você me pediu ajuda, aquela que você e as meninas estão montando. que aliás, é ótima! eu queria estar aqui pra te ver em cena. tenho certeza de que vai dar tudo certo, vê se bota fé.
você já deve estar se perguntando onde eu estou. eu não fui dar aquela volta de sempre no quarteirão nem estou trancada no quarto. olha, André, me perdoa...
eu fui embora. não é por mal, eu juro, confia em mim? é tudo o que preciso. eu não vou estar mais aqui pra ver, então vou acreditar que você entendeu a frase ali de cima porque eu não vou me explicar mais. eu sei que não dá mais pra continuar aqui.
eu tô deixando a casa pra você e a grana de três meses de aluguel dentro daquela gaveta da cozinha, a que é difícil de abrir. eu queria te pedir pra tratar dos bichos e da samambaia. cuida do que é nosso por mim. vê se não esquece dos seus remédios e diminui esses cigarros, não quero ter de enterrar você. repetindo-de-novo-mais-uma-vez, por favor, não se drogue, eu já te pedi isso um milhão de vezes, quem sabe nessa você escuta. mais avisos: pelo amor de deus, André, tome conta de você e tenha MUITO cuidado com essas pessoas que você arranja nessa vida, principalmente Carolina. depois abre teu olho com a Dora e o Igor. quanto a Catarina, larga dela, cara! deixa a garota viver. ah, e vê se joga fora aquelas fotos do Tadeu, eu não joguei porque sou muito legal contigo. bom, se liga, cara. eu tô confiando em você. eu queria estar em casa quando você acordasse - se é que você dormiu essa noite. mas você nunca me deixaria ir e eu perderia a coragem. eu preciso ir agora senão eu perco meu ônibus, não posso prolongar essa conversa.
não tente saber pra onde eu vou, deixa que eu escrevo daqui um tempo.
com amor,
Luíza
20 maio, 2012
M
Eu preciso vomitar
mil coisas mil pessoas
mil amores mil valores
mil desgostos mil substâncias
mil preconceitos mil dívidas
mil cachos mil olhos verdes
mil células mil cobertores
mil tomates mil panquecas
mil cenas mil desenhos inacabados
mil poemas não-recitados mil toques muito esperados
mil coisas mil pessoas
mil amores mil valores
mil desgostos mil substâncias
mil preconceitos mil dívidas
mil cachos mil olhos verdes
mil células mil cobertores
mil tomates mil panquecas
mil cenas mil desenhos inacabados
mil poemas não-recitados mil toques muito esperados
batuques e Dora
Mas que merda que merda que merda mas que merda você parece que não entende a falta que faz eu procuro o tempo todo e nada - não uma simples companhia eu quero mais que isso eu quero baby, eu vou aonde você for e é só disso que eu preciso eu só preciso cortar tomates rindo da sua cara de palhaça e dos seus olhos lindos. Dora, I would do it, i would say it, I would mean it, we could do it.
E mais uma vez eu não consegui fugir de falar de você mulher mais uma vez eu não consegui dormir parado pensando eu só batucava com os dentes algumas músicas ridículas mais uma vez eu não consegui escrever mais uma palavra depois que você apareceu na minha cabeça.
E mais uma vez eu não consegui fugir de falar de você mulher mais uma vez eu não consegui dormir parado pensando eu só batucava com os dentes algumas músicas ridículas mais uma vez eu não consegui escrever mais uma palavra depois que você apareceu na minha cabeça.
14 maio, 2012
outro encontro mais uma vez
Este sábado encontrei Tadeu. O safado acabou de voltar da Europa, que inveja. Tudo bem, tudo bem... Tomamos as nossas e fiz questão de cobrar meu abraço - e durante vi que nunca o tiraria da cabeça. Sweetness sweetness I was only joking when i said i'd like to...
Não faço questão.
Não faço questão.
27 março, 2012
só mais uma car_ta 11 dias
Manoel,
Eu sei que você não quer ouvir uma palavra de mim, sei que não quer me ver nem pintado de ouro mas por favor, manda se foder o teu orgulho só um minuto e me escuta um pouco, Manoel. Não precisa me responder, só me escuta.
Por te-lo perdido, Manoel, venho abandonando aquela vagabunda. Você pode até não acreditar em mim. E você sabe que eu sou um vagabundo e que eu minto o tempo todo, eu sou. Eu me minto e que se dane a concordância. Admito que fui bater na porta da casa dela esse sábado mas ela não estava e fui embora, Manoel, eu fui embora! E chega, sabe? Chega, porra, chega! Ela me fez um estrago e me levou tanto embora que eu sou capaz de estrangular aquela puta mas como assim eu sou incapaz de dizer que não a desejo?! Lógico, eu sou assim, sujo, mentiroso. Corriqueiro.
Perdão pelas palavras, mas nesses meus 27 anos de estrago e fracasso eu ainda não sou homem, Manoel, eu ainda não sou homem o suficiente pra me olhar no espelho e me orgulhar.
Já fui, Manoel, já fui outra e sei posso voltar a ser.
Abraço apertado do seu (hoje, por enquanto),
André.
Eu sei que você não quer ouvir uma palavra de mim, sei que não quer me ver nem pintado de ouro mas por favor, manda se foder o teu orgulho só um minuto e me escuta um pouco, Manoel. Não precisa me responder, só me escuta.
Por te-lo perdido, Manoel, venho abandonando aquela vagabunda. Você pode até não acreditar em mim. E você sabe que eu sou um vagabundo e que eu minto o tempo todo, eu sou. Eu me minto e que se dane a concordância. Admito que fui bater na porta da casa dela esse sábado mas ela não estava e fui embora, Manoel, eu fui embora! E chega, sabe? Chega, porra, chega! Ela me fez um estrago e me levou tanto embora que eu sou capaz de estrangular aquela puta mas como assim eu sou incapaz de dizer que não a desejo?! Lógico, eu sou assim, sujo, mentiroso. Corriqueiro.
Perdão pelas palavras, mas nesses meus 27 anos de estrago e fracasso eu ainda não sou homem, Manoel, eu ainda não sou homem o suficiente pra me olhar no espelho e me orgulhar.
Já fui, Manoel, já fui outra e sei posso voltar a ser.
Abraço apertado do seu (hoje, por enquanto),
André.
19 março, 2012
socorro meu perdão
Eu tô tentando, Manoel, eu tô tentando. Peço mil sinceras desculpas pelas vezes que fui ver Carolina estando com você e isso me matou, Manoel, depois que ela foi embora me matou de tanta culpa que eu não me sentia homem de olhar na sua cara no dia seguinte. Eu não queria ir embora, Manoel, mas não podia ficar. Fui injusto, sujo, fraco, um merda. Eu sei que eu sou merda, Manoel. Eu sei.
07 março, 2012
seria doce o meu lar
E eis que uma vez eu vi caída uma foto de um marinheiro erodida na areia misturada a lixo
atrás estava escrito:
"egoísmo impede de ficar por isso marinheiro
se eu não voltar por nada
morri afogado"
atrás estava escrito:
"egoísmo impede de ficar por isso marinheiro
se eu não voltar por nada
morri afogado"
02 março, 2012
01 março, 2012
Aquele cara
Ele tinha toda uma mania esquisita (além do nome que sempre parecia estar escrito ao contrário). Escrever cartas a desconhecidos era uma delas. Quando soube disso me apaixonei por sua loucura de jovem-adulto-viajado-certo-do-que-quer-da-vida. Às vezes o invejava. Era do tipo que tinha tudo pra ser maluco drogado largado de esquina mas não era nada disso e talvez esse ponto me incomodasse mais que os outros - eu sou engraçado pra caralho em conflito com meu gosto que fede a ovo podre.
Lembro-me que do dia em que juntos jogamos purrinha pra ver se o tempo passava e passou, passou tanto que não mais o vi. Ouvi dizer que estava em outro país casado com um cara ou uma mulher, não quis me aprofundar. Só sei que num dia qualquer outra hora qualquer me chegou uma carta e eu sabia que eu não era um desconhecido. Era mesmo minha. Ele dizia que estava em minhas terras então tive lá por trás das orelhas uma coragem desconhecida, assumi o papel de seu destinatário e lá fui eu a seu encontro.
Então de cima de uma pedra eu vi o sol brilhar bonito como não fazia há tempos e o dia inteiro passei com os dedos cheios de areia na água gelada onde mora a rainha. Ele banhou-se como criança no mar, tal qual nunca tivesse o visto antes.
Eu disse coisas sobre sonhos e fui embora mas voltei desleixado, canalha sem um pingo de vergonha na cara e escrevi versos mais uma vez. Tirei sorrisos e suor como se eu não fosse acordar e esperancei - eu o ouço me dizer isso dentro da minha cabeça. Rindo da sua voz fina da sua cor pálida e de quando espirrava que nem um rato - e mais tudo que me fazia brilhar.
Não sei que horas, ora, mas fui embora e dessa vez não foi com Catarina. Carolina, vadia, que me levou e eu não quis mais voltar e sei lá o porquê desse vexame todo, irmão - eu não vou falar dela, eu não vou falar.
Carlos. Às vezes Manoel. Sem mais delongas porque eu preciso dormir e eu já falei eu sei que já falei demais.
Lembro-me que do dia em que juntos jogamos purrinha pra ver se o tempo passava e passou, passou tanto que não mais o vi. Ouvi dizer que estava em outro país casado com um cara ou uma mulher, não quis me aprofundar. Só sei que num dia qualquer outra hora qualquer me chegou uma carta e eu sabia que eu não era um desconhecido. Era mesmo minha. Ele dizia que estava em minhas terras então tive lá por trás das orelhas uma coragem desconhecida, assumi o papel de seu destinatário e lá fui eu a seu encontro.
Então de cima de uma pedra eu vi o sol brilhar bonito como não fazia há tempos e o dia inteiro passei com os dedos cheios de areia na água gelada onde mora a rainha. Ele banhou-se como criança no mar, tal qual nunca tivesse o visto antes.
Eu disse coisas sobre sonhos e fui embora mas voltei desleixado, canalha sem um pingo de vergonha na cara e escrevi versos mais uma vez. Tirei sorrisos e suor como se eu não fosse acordar e esperancei - eu o ouço me dizer isso dentro da minha cabeça. Rindo da sua voz fina da sua cor pálida e de quando espirrava que nem um rato - e mais tudo que me fazia brilhar.
Não sei que horas, ora, mas fui embora e dessa vez não foi com Catarina. Carolina, vadia, que me levou e eu não quis mais voltar e sei lá o porquê desse vexame todo, irmão - eu não vou falar dela, eu não vou falar.
Carlos. Às vezes Manoel. Sem mais delongas porque eu preciso dormir e eu já falei eu sei que já falei demais.
28 fevereiro, 2012
sobre viagens, existir e Tadeu
Sinto saudades de Tadeu. Velho de guerra, companheiro, gente boa que um dia fez meu estômago borbulhar de não sei o quê. Até hoje tenho alguns enjôos quando o vejo. Achou uma mulher não tão bonita - mas que me parece boa, apesar das minhas pulgas na orelha - se apaixonou e se mandou pra vida a dois. Ainda o encontro por aí tomando suas cachaças diárias e reclamando da vida. E lembro da viagem que fizemos eu ele mais um outro companheiro - também perdido por aí nas carreiras. Vezenquando tenho uma vontade enorme de dar-lhe um abraço daqueles que eu sempre guardei e de dizer o quanto dele eu tenho em mim. Sou grande parte Tadeu e não me entristeço porque foi o que ele deixou cair aqui, ficou meu. Um dia, uma semana e muitos livros. Um abraço. Ah, como queria mostrar a esse velho o quanto me ensinou sem precisar pegar uma cadeira, sentar ao meu lado e fazer prestar atenção. Não... Foi só. Só existindo.
27 fevereiro, 2012
Entre poeira vírgula - ou não
Pelo santo, Carolina, para com isso. Eu não tenho paciência pra você. Você me vem com esses papos de que está tudo bem, me chama de 'amor', diz que eu sou lindo-o-homem-da-sua-vida-e-só-comigo-você-pode-ser-feliz. Não fode, Carolina! Quem você acha que eu sou? Eu não preciso de você. Chega. Não devo me prolongar, vou tomar um café senão perco minha cabeça com essa conversa. -
Um café há dois dias parado na jarra gelado amargo pra caralho que eu tomei sem açúcar pra ver se desce e acaba com o doce da minha vida porque é disso que eu gosto e assim eu tenho toda a atenção que eu quero.
- E essas porras dessas formigas aqui na mesa? O que você anda fazendo? Deixa de ser suja, mulher, vá se limpar.
Ela com aquele seu vestido branco sujo rasgado desfolhado e a pele seca que ela descascava como alho no sofá. Eu senti meu coração bater na nuca e aquele calor dentro da minha calça preta de brim não me deixava pensar. Suor escorrendo na testa mas eu não deixava de olhar para Carolina e era exatamente daquele jeito que eu gostava dela e pensava, imaginava. Imaginava todas as vezes que ela me deixava sujo como seu vestido e me rasgava e era só eu e ela ela e eu e só.
- Eu te odeio, Carolina.
Um café há dois dias parado na jarra gelado amargo pra caralho que eu tomei sem açúcar pra ver se desce e acaba com o doce da minha vida porque é disso que eu gosto e assim eu tenho toda a atenção que eu quero.
- E essas porras dessas formigas aqui na mesa? O que você anda fazendo? Deixa de ser suja, mulher, vá se limpar.
Ela com aquele seu vestido branco sujo rasgado desfolhado e a pele seca que ela descascava como alho no sofá. Eu senti meu coração bater na nuca e aquele calor dentro da minha calça preta de brim não me deixava pensar. Suor escorrendo na testa mas eu não deixava de olhar para Carolina e era exatamente daquele jeito que eu gostava dela e pensava, imaginava. Imaginava todas as vezes que ela me deixava sujo como seu vestido e me rasgava e era só eu e ela ela e eu e só.
- Eu te odeio, Carolina.
16 fevereiro, 2012
Sobre rasgos
E de repente me vi caminhando, contente, calado pelas ruas daquele lugar sujo que tanto amo, cheio de gente que não sabe mais de onde veio, cheio de esperanças caídas pelo chão, blocos de cimento passando entre blocos de rua porque já é carnaval para os amantes. No relógio já era cedo e eu estava bonito como da outra vez.
A figura me veio como bala 38 no peito, rasgando seco a raiva junto com todos os meus órgãos, como se tivessem me tirado tudo o que tinha naquele exato momento e então eu só queria ir para casa.
Mas eu não morri, não morri.
A figura me veio como bala 38 no peito, rasgando seco a raiva junto com todos os meus órgãos, como se tivessem me tirado tudo o que tinha naquele exato momento e então eu só queria ir para casa.
Mas eu não morri, não morri.
14 fevereiro, 2012
- Caralho, meu amigo, porque eu não consigo largar de mão de vez? Claro que não, óbvio que não... Porra, cara, Catarina era foda! Catarina É foda. Mas ela é foda nos dois sentidos, sabe? Isso que é pior. Talvez nos três sentidos. Catarina é foda, é foda e é foda... Catarina é maravilhosa. Catarina é uma sem-vergonha! E Catarina é meu sexo... Eu tô fodido, cara.
09 janeiro, 2012
É, é foda porque você acaba virando cocaína e o estrago é exatamente o mesmo e foda-se se você não concorda mas eu perdi as minhas vírgulas de novo e olha só como eu tô agora enxugando as lágrimas com tapas nos olhos e espremendo a cabeça com as mãos como aquela pintura que eu esqueci o nome e socando pra ver se sai alguma coisa dessa merda e que ódio que ódio que ódio de mim mesmo que fico completamente fora do normal perto de você escrevendo sem concordância nenhuma pelo menos não quando passo os olhos pra ver como está mas você não sabe como eu sou obcecado por isso tudo e por essa dor e pelo gozo e pelos sorrisos de fim de tarde e puta que pariu CRISE DE ABSTINÊNCIA FODIDA você não pode aparecer de novo não agora não não não não agora pelo amor de deus que eu não tenho mais nariz pra você.
08 janeiro, 2012
Eu sumo, cara, eu sou assim. Sou sumido como moeda na areia. Desde pequeno minha mãe já dizia que eu queria fazer as malas e ir embora. E minha senhora hoje diz o mesmo. Sou passarinho, liberto, de gaiola aberta. E só assim posso escolher onde pousar, onde tecer meu ninho. Só assim posso voar dentro de mim.
02 janeiro, 2012
Hoje o mundo é azul
Duas da tarde do dia seguinte e me vejo nesta cadeira azul-royal que ofusca mais meus olhos que minha hipermetropia tão perto da tela. Quero nascer outro. Vejo-me turvo, sem paladar, sem alimento. Empanado em minha própria obssessão pela cura. E quero o retorcido, dobrado, curvilíneo, íngreme, sinuoso.
Eu quero o complexo porque eu sempre gostei do estrago e isso me lembra uma canção.
Dedico algumas frases a um grande amigo meu, pois sempre que o leio começo a palavrear e nem ele sabe como acho isso tão belo, tão... Especial? Não sei o que há em suas cartas nem nos seus livros que nunca consegui ler. Compartilhamos franceses e um pouco de cultura que eu já renego que exista em mim, não me enxergo mas talvez seja disso que eu preciso agora, entende?
E agora eu me levanto e vou à estante selecionar aquele livro de capa azul que há mais de ano me foi dado de presente e até hoje, nada. É azul. Azul, como a cadeira! Azul, a cor da contagem regressiva dos dez segundos de felicidade extrema ouvindo música de macumba e azul era minha roupa quando o conheci, olha só!
Fecho os olhos e lembro do tempo frio que fazia, onde os casacos não eram suficientes mas o café era de graça; o céu cheio de estrelas e nós deitávamos na grama pra assistir os shows à noite, com toda a poesia e o tabaco que merecíamos. Nesse meio tempo perdi as estrelas e palavras e poemas e autores e livros que prometi e obras mais pinturas sem trajeto nenhum e sem pincéis encharcados que manchavam aquarelas das mais variadas que fazia e pessoas recitando sonhos em meus ouvidos que já não escutavam mais nada.
Eu preciso de um banho, amor. Eu preciso de um banho pra ver se saem todas as vírgulas de minha alma porque já estou farto delas. Não quero pontos finais reticências dois-pontos muito menos hifens. Não quero mais controle e de viver assim, só, quero o ar que me oxigena para sempre.
Continuo a escrever de meia em meia hora sem saber ao certo sobre o que se trata a discussão de meus dedos. Agora só vou tomar meu banho. Meu café e meu cigarro também não pode faltar.
Meus dois amores dormem no quarto ao lado. Às nove estou de volta.
Eu quero o complexo porque eu sempre gostei do estrago e isso me lembra uma canção.
Dedico algumas frases a um grande amigo meu, pois sempre que o leio começo a palavrear e nem ele sabe como acho isso tão belo, tão... Especial? Não sei o que há em suas cartas nem nos seus livros que nunca consegui ler. Compartilhamos franceses e um pouco de cultura que eu já renego que exista em mim, não me enxergo mas talvez seja disso que eu preciso agora, entende?
E agora eu me levanto e vou à estante selecionar aquele livro de capa azul que há mais de ano me foi dado de presente e até hoje, nada. É azul. Azul, como a cadeira! Azul, a cor da contagem regressiva dos dez segundos de felicidade extrema ouvindo música de macumba e azul era minha roupa quando o conheci, olha só!
Fecho os olhos e lembro do tempo frio que fazia, onde os casacos não eram suficientes mas o café era de graça; o céu cheio de estrelas e nós deitávamos na grama pra assistir os shows à noite, com toda a poesia e o tabaco que merecíamos. Nesse meio tempo perdi as estrelas e palavras e poemas e autores e livros que prometi e obras mais pinturas sem trajeto nenhum e sem pincéis encharcados que manchavam aquarelas das mais variadas que fazia e pessoas recitando sonhos em meus ouvidos que já não escutavam mais nada.
Eu preciso de um banho, amor. Eu preciso de um banho pra ver se saem todas as vírgulas de minha alma porque já estou farto delas. Não quero pontos finais reticências dois-pontos muito menos hifens. Não quero mais controle e de viver assim, só, quero o ar que me oxigena para sempre.
Continuo a escrever de meia em meia hora sem saber ao certo sobre o que se trata a discussão de meus dedos. Agora só vou tomar meu banho. Meu café e meu cigarro também não pode faltar.
Meus dois amores dormem no quarto ao lado. Às nove estou de volta.
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